segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O FANTASMA DO PALÁCIO

 

O Fantasma do Palácio

Famosa é a citação do Manifesto Comunista de Karl Marx que diz: "Um espectro ronda a Europa, trata-se do espectro do comunismo." Nessas águas de realismo fantástico navegamos há tempos em dialogar com seres sobrenaturais em tempos políticos surrealistas. Alguns sorririam para esse relato com muitas gargalhadas se a realidade já não fosse muito cômica. Ainda mais naquela semana em que dois ex-governadores foram presos... Um deles, com um nome político em forma de diminutivo, ainda nos ofereceu cenas patéticas de uma sociedade que deixou-se cair nas profundezas das forças obscuras. Contudo, segue o desafio de compreender uma voz ocultista que veio do sertão do Rio Grande do Norte. Acompanhemos alguns episódios que se revelam por essas psicografia feita pelo nosso Guru da Numerologia Rubinho Dagmar.
 
Eis que ele recebeu a visita espiritual do dirigente comunista do PCBR Mário Alves. Não é raro que marxistas-leninistas do mundo do além se apresentem diante do Guru no bairro de Campo Grande. A espiritualidade não é intolerante com posições políticas ou religiosas. Em tempos de ondas conservadoras, Dagmar se permitiu a ouvir uma das célebres vítimas da Ditadura Militar. Um pouco conhecerdor da história desse período pela leitura dos volumes do jornalista Elio Gaspari, ele aguardava uma revelação que lhe pudesse ganhar espaço na mídia pois, quem sabe, aquele espírito lhe revelaria outros segredos sobre as dependências de tortura do Quartel da Polícia do Exército da rua Barão de Mesquita.
 
Um clarão antecipou a aparição das nuvens espectrais... Rubinho sentou-se na mesa e começou a escrever as fórmulas matemáticas; que, depois de decifradas, indicam qual teriam sido a mensagem do fantasma. Mas desta vez, Melhoral... O fantasma de um mendingo das ruas de Campo Grande e muito famoso nos anos 70/80 deixou sua voz no ambiente.
 
- Este é meu amigo Mário. Ele está chateado com a política. Desde que esteve aprisionado no Palácio do Guanabara.
 
- Melhoral. Por onde andavas?
 
- Estive andando pelos becos de esquina. Nem pude chegar ao meu destino de descanso na eternidade.
 
- Deixe que seu amigo revele os segredos do Palácio. Mas, pelo que sei, ele desencarnou na Tijuca em 1970...
 
- Sim. Mas isso é uma longa história. Para resumir tudo... Numa invasão de Professores Grevistas ao Palácio no tempo do Garotinho ele acabou por ficar por lá... Ele tinha esperança em enviar mensagens para um Subsecretário de Segurança comprometido com os Direitos Humanos... Mas não foi possível... O sujeito foi demitido pela TV e meu amigo por lá ficou aprisionado.
 
- Fale meu visitante... As expressões da matemática podem revelar seu contato.
 
Melhoral se apresentou enquanto sombra na sala, porém o outro visitante gradualmente ditou algumas mensagens ao ouvido do ocultista que rapidamente rabiscava fórmulas matemáticas num caderno azul de origem portuguesa - semelhante ao descrito por Paul Auster em A Noite do Oráculo. Momento de ansiedade, pois o ocultista baixinho falava que tudo aquilo valia mais que uma delação premiada. Um segredo daqueles mereceria ser revelado em mídia nacional no horário nobre.
 
Abaixo das fórmulas... Uma tradução se formava... Melhoral acompanhava... Estava escrito as origens de tudo que havia de errado na política estadual desde a mudança da Capital para Brasília. Contas secretas e suas senhas se confundiam com a promiscuidade com o jogo do bicho. Roteiros de reuniões. E contatos políticos do passado. Em minutos, décadas de revelações pelos números eram revelados por um espírito vermelho. Coisas impublicáveis. Desconfianças confirmadas... As ruas das manifestações estudantis. As ruas das manifestações de 2013. As ruas em suas diversas vertentes. Tudo se explicaria e a sociedade alheia. A população escrava do clientelismo. Esquadrões da Morte. Compra de lideranças comunitárias. Os Centros Sociais dos políticos da periferia. Era um inventário de nossos erros com a carnavalização da política. Mas...
 
Tocou o celular. Despertou-se o rapaz antes de se preparar para sair ao encontro de sua mãe. Era um sonho de um morador das redondezas de Campo Grande. Ele nem se preocupou em verificar as conexões com a realidade fantástica, pois era só mais um Silva que morava na Estrada da Posse. Se dirigia apressado ao ponto de ônibus e, temente a Deus, nem por curiosidade se aproximou de um certo caderno azul que estava na encruzilhada junto de duas velas já apagadas.
 
 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

MUDAR É PRECISO



ESPAÇO DA ESQUERDA DEMOCRÁTICA DA ZONA OESTE (EDEZO)
DEFENDENDE AS CANDIDATURAS DA MUDANÇA
ABAIXO O NOSSO MANIFESTO
 
Estamos em mais um momento decisivo da política brasileira. Trata-se da disputa eleitoral em meio a uma grave crise política e econômica. Diferente de muitas forças políticas do campo da esquerda, o Espaço dos Democratas da Esquerda da Zona Oeste (EDEZO) considera a democracia um legado universal da humanidade. Por isso, não nos negamos a reconhecer nas eleições uma oportunidade de debater ideias e fazer avançar posições políticas progressistas. A via democrática é o único caminho viável para a superação desse capitalismo expansivo brasileiro que degrada o meio ambiente com fortes impactos negativos na sociedade. Reconhecemos na democracia um momento de luta pelo apoio daqueles setores da sociedade que ainda estão sob hegemonia do conservadorismo.
 
Na Cidade do Rio de Janeiro, as eleições de 2016 se realizam após ter sido palco das manifestações de 2013. Elas foram o grito dos "cidadãos" pela aplicação das conquistas sociais da Constituição de 1988 além de demonstrar que há um abismo entre os profissionais da política que "privatizaram" as ações do poder público e a sociedade. Há a necessidade de que tenhamos novos canais de participação da sociedade carioca para encaminhar realizações não atendidas pelas obras para as Olimpíadas além de enfrentar a crise financeira que se avizinha aos cofres públicos do Município da Cidade Maravilhosa. Somos uma cidade com quase meio milhão de jovens no desemprego, o que precisa ser enfrentado com um programa de incentivo a indústria cultural, por exemplo.
 
Fortes são os problemas que vivenciamos em nosso dia a dia. A começar pela dificuldade de trabalhar próximo a nossa residência, o que faz da mobilidade urbana um problema constante para o trabalhador carioca. Há saídas possíveis debatidas no meio universitário e iniciativas da sociedade como o uso da bicicleta são deixadas sem apoio do poder público. A nossa opinião é de que há uma degradação dos setores políticos que governam esse Município desde 2008 e que teve condições de cooptar, verdade seja dita, setores de uma esquerda ultrapassada em nome de acordos nem sempre programáticos.
 
Esse é o motivo do o Espaço  dos Democratas da Esquerda da Zona Oeste (EDEZO) apoiar a candidatura de Marcelo Freixo para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Não somos tendência ou corrente de nenhuma organização política organizada. Desejamos ser o núcleo de uma esquerda que debata os novos caminhos para o século XXI. Portanto, declaramos esse apoio incondicional a aliança PSOL/PCB por ser o melhor caminho político para enfrentar as forças políticas do clientelismo político que se entranhou na cultura política carioca em diversos partidos. O clientelismo, o assistencialismo e o corporativismo não são privilégios do PMDB. Lamentavelmente, muitas forças políticas não perceberam que a sociedade deseja um novo rumo na política carioca. A vitória de Marcelo Freixo fará história na reorganização dessa forma de fazer política.
 
Uma vez que desejamos abrir caminho para uma nova forma de fazer política, defendemos a melhoria da qualidade política de nossa Câmara de Vereadores. Não podemos continuar convivendo com um legislativo municipal que seja "correia de transmissão" do mercantilismo do troca troca de votos. Primeiro, vereadores são eleitos por setores da sociedade que fazem o "mercado de seu voto" nas redes assistencialistas. Em seguida, esses vereadores se deixam seduzir pelas vantagens de apoiar o Governo municipal em troca de cargos comissionados. Não há ideias que circulem com vitalidade para enfrentar a crise econômica desse jeito.
 
Por isso, defendemos a reeleição do Vereador Paulo Pinheiro (PSOL - Número 50111) nesse momento grave da política brasileira. Ele soma a sua experiência política com a juventude de suas ideias. Ele soma sua independência política com sua flexibilidade para o diálogo com uma pluralidade de setores políticos que desejem debater soluções programáticas. Ele é um nome que representa um compromisso para que Bangu, Campo Grande, Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Santa Cruz e Sepetiba sejam incluídas de forma soberana ao mundo do carioca através de serviços públicos de qualidade como Saúde e Educação.
 
A reeleição de Paulo Pinheiro deve representar a força dos ventos democráticos na organização da sociedade. Não é apenas mais um voto em um candidato progressista. Trata-se de um voto que possa dar impacto nos noticiários da cidade assim que saírem os resultados das urnas. Um voto que dará alegria a você eleitor de terceira idade, médio ou jovem. Homens, mulheres independente de opções sexuais. De todos os credos, pois somos uma força política plural e sem intolerância até com nossos adversários políticos. Precisamos de vocês que estão questionando esses nomes de práticas antigas em nossos bairros.  Leia. Reflita. Vote PAULO PINHEIRO 50111 para VEREADOR. Compartilhe essa ideia entre amigos e familiares. MUDAR É PRECISO!


terça-feira, 14 de junho de 2016

O FILME CAMPO GRANDE

 
 
Campo Grande em desencontros
Por Vagner Gomes de Souza
 
Sentimos que há uma série de desencontros quando sobem os letreiros do filme Campo Grande (Direção Sandra Kogut). Tecnicamente há um roteiro original que poderia nos supreender ainda mais. Contudo, tudo poderia se explicar pelo desencontro com outros referenciais do cinema nacional. Talvez propositadamente, para não parecer que se faz o "mais do mesmo" em nossa produção cinematográfica, a Diretora deixa muitas linhas desencontradas na narração. Todavia, os desencontros do desenvolvimento do roteiro podem servir para uma amplo leque de interpretação.
 
No tempo de uma mudança de apartamento da classe média de Ipanema, motivada por um divórcio, surgem duas crianças que se desencontraram de sua mãe. Diante de um bilhete de loteria com o nome e endereço da moradora emerge um exemplo da dificuldade de nossa classe média carioca em compreender nossos problemas sociais no dia a dia. Afinal, o olhar da moradora Regina (Carla Ribas) é de perplexidade ao ouvir na boca do menino Igor que mora em Campo Grande. A empreganda doméstica logo sai com a frase em auxílio: "Campo Grande é muito grande!"
 
Esse desencontro da periferia carioca com a Cidade Maravilhosa se espelha num diálogo distante entre uma adulta e o casal de crianças. A primeira saída é sempre buscar passar adiante o "problema". Não olhar nos olhos das crianças com um olhar de integração. O apartamento está sendo esvaziado como os corações de muitos cariocas. O tempo urge e não se tem tempo para resolver esses desencontros de "menor abandonado". O Serviço de Atendimento do Cidadão da Prefeitura é uma sequência de gravações mecanizadas como a engrenagem weberiana de uma gestão rotinizada. Um exemplo de cidadania robotizada que muitos da classe média se deixaram conduzir nesses tempos de mudanças conservadoras na paisagem urbana carioca.

 
Saudades da Professora Dora do filme Central do Brasil (Walter Salles, 1998) que abraçou a ideia de buscar o pai de Josué no Nordeste brasileiro. Em Campo Grande, Regina está quase que apática remoendo seu drama particular de uma separação que lhe afasta de sua filha e de uma vida já toda arrumadinha. Sua filha, Lila (Julia Bernat), testemunha a falta de iniciativa de sua mãe em procurar uma solução para as crianças. O público assiste tudo com um sentimento de alta tensão ao testemunhar o desencontro entre seus desejos e a realidade, enquanto que cenas de gravações externas exibem em tom, quase de documentário, as mudanças nas vias urbanas do Rio de Janeiro que seriam um legado dos eventos esportivos de 2014 e 2016. Tudo em rotinização sem que o elemento do Amor quebrasse essa lógica.
 
Então, a magia da música aparece numa canção. Lila canta "Love" de John Lennon para o menino Igor. Será ela a pressionar sua mãe para que vá procurar a avó das crianças. Num primeiro momento, ela sairia por conta própria como se fossa a volta dos tempos jacobinos de nossa juventude carioca. Mas a mãe alerta: "Você não sabe de quem se trata essa gente!" Então, na sequência, estará Regina e Igor numa Avenida Brasil em obras. Um silêncio sobre a ausência de Lila. Um novo desencontro. Pois Igor tinha comentado para a jovem intérprete de "Love" que ela deveria ser Professora. De fato, ela não seria a Dora de nossas lembranças. Uma juventude que pensa de forma crítica mas não participa dos momentos decisivos da luta pelo encontro de duas partes de nossa cidade.
 
Até chegar ao "Titanic" (conjunto de prédios invadidos em Campo Grande), há uma fotografia que leva o público para os detalhes do bairro de Campo Grande ao atravessar o túnel de pedestres no sentido que muitos moradores chamam de "Lado B de Campo Grande". Campo Grande já foi o "Sertão Carioca", porém aqui temos mais um desencontro entre os seus personagens e a antropologia social do bairro quanto ao fator religioso num momento em que apareceu a música "Talismã" de Leandro e Leonardo. Magia e religiosidade caberiam muito bem nesse instante.
 
Entretanto, podemos reconhecer que há duas músicas fortes no filme, porém com contínuos desencontros o qual melhor se ilustram numa cena do filme. Trata-se do instante que apare uma placa numa obra: "Aviso: Acesso Bloqueado". Assim, vivem os moradores da Zona Oeste carioca em relação ao chamado legado urbano das Olimpíadas. A cena desse desencontro vale muito nesses tempos de modernização sem coração.
 

sábado, 9 de abril de 2016

NOVA ESQUERDA NA ZONA OESTE CARIOCA

 
Manifesto
Fundação do Espaço dos Democratas da Esquerda da Zona Oeste
EDEZO
 
A Zona Oeste carioca é um exemplo brasileiro de falta de perspectiva das periferias urbanas. Como tantos outros espaços da periferia, fomos urbanizados em plena Ditadura Militar, ou seja, a escassez de serviços públicos permitiu a maximização dos lucros para um conjunto de loteamentos legais ou não que contribuiram na formação de bairros e subbairros dormitórios. O silêncio imposto a sociedade civil organizada favoreceu a expansão demográfica da região sem que houvesse ganhos na qualidade de vida. Essa é a localidade em que a escassez da participação democrática é proporcional aos grandes lucros de segmentos sociais avessos ao respeito as normas legais.
 
As camadas subalternas da Zona Oeste carioca compõem a maior massa de trabalhadores das mais populosas Zonas Administrativas do Rio de Janeiro. Vivem o cotidiano de trabalhar distante de sua moradia. Fazer uso de transportes coletivos precários. Morar em espaços urbanos sem espaços de convivência comunitária. Não há uma cultura política que promova o desenvolvimento com justiça social diante de uma história marcada pelo clientelismo.
 
A sociedade civil foi sufocada diante das sedimentações passivas de uma estrutura econômica que foi modernizada por uma vertente autoritária. A Zona Oeste carioca é um caso clássico de "subúrbio" da política em benefício das forças políticas centralizadoras. Por isso, o populismo sempre aprofundou a grave situação das camadas populares na região, uma vez que cede determinadas conquistas sem aprofundar na organização da sociedade. As maiores vítimas dos efeitos perversos da crise econômica dos anos da década de 80 viveram a espera de um "salvador da pátria". O sebastianismo político na Zona Oeste só mudou de "pele" nos anos que se seguiram. Contudo, todos tiveram a mesma espinha dorsal: negociaram com as forças políticas conservadoras locais em nome de uma estabilidade local.
 
Afinal, a Zona Oeste carioca ganhou centralidade política no jogo político do Município. O bairro de Campo Grande é o centro político dessa representatividade autoritária e mítica. Muitas iniciativas democráticas no Rio de Janeiro não conseguiram prosperar pois não tiveram a adesão dessa localidade política. A chave da vitória das forças democráticas no Rio de Janeiro passa por essa região. Por isso, que compreendemos ser fundamental uma nova forma da Esquerda atuar nesse território político.
 
A ideologização da Zona Oeste carioca é o erro da esquerda tradicional. Sobreviveu em fins dos anos 80 graças aos ventos das vertentes de uma esquerda católica que hoje não existe mais. Fragmentada em legendas que só desejam garantir um mito de "proximidade com o proletariado". Nossa esquerda tradicional não soube interpretar a singularidade da região. Simplesmente alimentou a opinião que seríamos parte de uma "cidade partida". Repudiamos essa falsa interpretação.
 
Somos parte integrante da política carioca uma vez que garantimos a hegemonia de seguidas administrações conservadoras desde 1988. Nossa precariedade social é o alimento político do clientelismo que sustenta esse conservadorismo. Por outro lado, à margem da institucionalidade, segmentos juvenis estão mobilizados sem que as cartilhas da esquerda tradicional impessa percebam essa contaminação de viés autoritário. Consequentemente, para que tenhamos uma política democrática e progressista em nossa Cidade, defendemos uma nova forma de atuação da esquerda em nossa região.
 
Por isso, reunimos militantes de diversos perfis e segmentos do campo democrático para fundar um movimento político que represente esse nova interpretação. Nosso objetivo é mobilizar a sociedade para aprofundar as mudanças na região pela participação democrática. Lutar por melhorias na qualidade de vida destacando a saúde, a educação, a mobilidade urbana e a cultura. Precisamos melhor conhecer nossa história local e a sociologia política que alimenta as engrenagens do clientelismo. Estudar e agir com as forças democráticas locais e do município para que democratizemos nosso espaço urbano.
 
O Espaço dos Democratas da Esquerda da Zona Oeste (EDEZO) tem sua base política de atuação na AP. 5 (Bairro de Realengo até Santa Cruz). Somos pluripartidários no campo da esquerda sem sectarismo com a origem de nossos militantes desde que se comprometam com esse manifesto e o defendam em sua atuação política cotidiana. Somos um Movimento Político de Estudo e Mobilização da sociedade civil. Somos um Espaço que julgamos que seja necessário se fortalecer nessa região.