sexta-feira, 1 de março de 2019

CULTURA E POLÍTICA


Se ROMA fosse carioca

Por Vagner Gomes
A indicação do filme Roma, dirigido por Alfonso Cuarón, para concorrer em 10 modalidades do Oscar 2019 faz parte de uma trajetória de prêmios que se iniciou na conquista do Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza de 2018. A quantidade de indicações chamou a atenção dos meios de comunicação para o filme. Entretanto, vivemos em tempos de raras análises políticas extraídas da produção cinematográfica (exceção para as resenhas críticas de Pablo Spinelli publicadas no BLOG VOTO POSITIVO).
Nosso olhar não tem como objetivo fazer um balanço sobre o filme, mas nos permitir em pensar o drama carioca pelas lentes do diretor mexicano. Roma é um drama social que se passa no início da década de 1970. A narrativa está em torno do trabalho doméstico de uma indígena numa casa de classe média. Ao longo do filme perceberemos que ela veio do mundo agrário como muitas das domésticas cariocas na longínqua década de 70.  Sua sensibilidade faz lembrar a estética cinematográfica italiana da chamada escola “realista” e lhe conferiu três premiações na Academia (Fotografia – Filme Estrangeiro – Direção).
Nesse filme produzido em branco e preto a imagem inicial da espuma de uma faxina me fez associar aos primeiros minutos silenciosos de Era Uma Vez no Oeste de Sérgio Leone. Mas, lembrei-me de minha infância em tempos de chaguismo com um paralelo ao domínio político do Partido Revolucionário Institucional (PRI) no México. As cenas da campanha eleitoral nas periferias. Os personagens da periferia e minha lembrança sobre a minha avó de raízes indígenas e negras que era lavadeira de roupa.
 A casa de classe média seria uma “ilha” daquele tempo. O tema da saúde pública que é relevante nos dias atuais e que permitiu a instalação de uma ampla conexão de lavagem de dinheiro na política carioca através da OSs. De Chagas Freitas até Witzel. O cenário político carioca se enfraqueceu pelo divórcio da classe média com as classes subalternas. No México, a realidade foi do PRI até Obrador. Entretanto, o atual presidente mexicano não se assemelha ao professor de História consagrado no filme Tropa de Elite 2.
Se Roma fosse carioca, as manifestações de 2013 teriam alimentado um ativismo cultural mais universalista que as frentes segmentadas do sectarismo da esquerda local. O detalhe é que a proximidade da atuação das organizações criminosas articuladas com a política presente no filme mexicano é uma realidade muito mais presente entre os cariocas. Muitos preferem a tranquilidade de sua vida particular ao compromisso desgastante de fazer uma política séria. Por isso, a renovação de quadros políticos no campo democrático é precária nesses dias. A juventude que entra na política carioca não compreende a metáfora das ondas para aqueles que não saibam nadar. Navegar é preciso e viver não é preciso. Nesse verso se explica que há um centro político carioca a ser empurrado adiante.