Se ROMA fosse carioca
Por
Vagner Gomes
A indicação do filme
Roma, dirigido por Alfonso Cuarón, para concorrer em 10 modalidades do Oscar
2019 faz parte de uma trajetória de prêmios que se iniciou na conquista do Leão
de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza de 2018. A quantidade de
indicações chamou a atenção dos meios de comunicação para o filme. Entretanto,
vivemos em tempos de raras análises políticas extraídas da produção
cinematográfica (exceção para as resenhas críticas de Pablo Spinelli publicadas
no BLOG VOTO POSITIVO).
Nosso olhar não tem
como objetivo fazer um balanço sobre o filme, mas nos permitir em pensar o
drama carioca pelas lentes do diretor mexicano. Roma é um drama social que se
passa no início da década de 1970. A narrativa está em torno do trabalho
doméstico de uma indígena numa casa de classe média. Ao longo do filme perceberemos
que ela veio do mundo agrário como muitas das domésticas cariocas na longínqua
década de 70. Sua sensibilidade faz
lembrar a estética cinematográfica italiana da chamada escola “realista” e lhe
conferiu três premiações na Academia (Fotografia – Filme Estrangeiro –
Direção).
Nesse filme produzido
em branco e preto a imagem inicial da espuma de uma faxina me fez associar aos
primeiros minutos silenciosos de Era Uma Vez no Oeste de Sérgio Leone. Mas,
lembrei-me de minha infância em tempos de chaguismo com um paralelo ao domínio
político do Partido Revolucionário Institucional (PRI) no México. As cenas da
campanha eleitoral nas periferias. Os personagens da periferia e minha
lembrança sobre a minha avó de raízes indígenas e negras que era lavadeira de
roupa.
A casa de classe média
seria uma “ilha” daquele tempo. O tema da saúde pública que é relevante nos
dias atuais e que permitiu a instalação de uma ampla conexão de lavagem de
dinheiro na política carioca através da OSs. De Chagas Freitas até Witzel. O
cenário político carioca se enfraqueceu pelo divórcio da classe média com as
classes subalternas. No México, a realidade foi do PRI até Obrador. Entretanto,
o atual presidente mexicano não se assemelha ao professor de História
consagrado no filme Tropa de Elite 2.
Se Roma fosse carioca,
as manifestações de 2013 teriam alimentado um ativismo cultural mais
universalista que as frentes segmentadas do sectarismo da esquerda local. O
detalhe é que a proximidade da atuação das organizações criminosas articuladas
com a política presente no filme mexicano é uma realidade muito mais presente
entre os cariocas. Muitos preferem a tranquilidade de sua vida particular ao
compromisso desgastante de fazer uma política séria. Por isso, a renovação de
quadros políticos no campo democrático é precária nesses dias. A juventude que
entra na política carioca não compreende a metáfora das ondas para aqueles que
não saibam nadar. Navegar é preciso e viver não é preciso. Nesse verso se
explica que há um centro político carioca a ser empurrado adiante.