O Apocalipse Carioca
As denúncias de que um
espaço público da administração municipal do Rio de Janeiro foi usado para uma
reunião de mobilização política revelam o quanto de profundo está a crise de
nossa representatividade. A política carioca está ameaçada pela associação do
clientelismo político com a configuração de um projeto político de hegemonia
conservadora com viés de “fundamentalismo” religioso.
Está claro que a
população colhe, aos poucos, os efeitos da atuação “antipolítica” nas eleições
de 2016. O Segundo Turno não se fez debate político e as forças reacionárias
(lembrem-se que o atual pré-candidato a Presidência do PSL apoiou Crivella no
segundo turno) foram em “socorro” do atual gestor carioca. Nas urnas, as
abstenções seguidas dos votos em branco e nulo sinalizaram para níveis
altíssimos. A baixa participação na política do eleitor carioca permitiu que tivessem
a Prefeitura agora sob ameaça de investigação do Ministério Público.
A emergência de uma
nova elite empresarial se associou ao projeto político de uma vertente do pentecostalismo.
O novo espírito do capitalismo do empreendedorismo carioca não dialoga com a tradição
republicana do funcionalismo público da antiga capital do país. Os sinais dos
finais do tempo da velha política que vieram nas manifestações de 2013 nas ruas
cariocas sofreram a reação dos cavaleiros do clientelismo: conservadorismo de
costumes; centralização política; assistencialismo e incentivos ao mercado
imobiliário.
Enquanto a prática do
sectarismo da esquerda carioca perambula pelo deserto da política da identidade
como os hebreus por 40 anos, as forças conservadoras usam e abusam do discurso
de necessidade de reinventar um Rio de Janeiro sob um perfil menos público e
com mais mercado incorporando as lideranças políticas locais capazes de
orientar eleitores evangélicos iludidos por serviços assistenciais.
Aqui na Zona Oeste
carioca, local em que o messianismo na política é uma característica da
hegemonia conservadora e autoritária, o Espaço dos Democratas da Esquerda da
Zona Oeste (EDEZO) clama pelo bem público para as investigações sejam feitas de
forma independente. Exigimos que os vereadores se reúnam em caráter de urgência
para exercerem a função de contribuir na apuração dos fatos graves que a
imprensa noticia. Convocamos a população carioca, que sofre com o descaso da
saúde pública entre outros serviços, que se mobilizem pelo bem da democracia.
Se em terra de cego, quem tem um olho é rei. Em terra de quem tem
catarata, é só falar com a Márcia.
Rio de Janeiro,
8 de julho de 2018.